quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Opinião Política - Diagrama Espanhol










Nestes dias ocorreram eleições regionais na Catalunha e a aprovação de uma consulta pública sobre sua independência, abrindo caminho para as discussões sobre sua independência em relação a Espanha, lembrando que o país já enfrenta discussões sobre a independência de outra região, o País Basco. O sentimento separatista ganhou força de forma súbita com a crise econômica pela qual a Europa vive neste momento, ressurgiu de forma inesperada e teve início depois que milhares de catalães saíram as ruas apoiados pelo governo local e com a aprovação de seu Parlamento de uma consulta pública sobre o tema. Como se sabe, a Catalunha é uma comunidade autônoma, com capital em Barcelona e cujo idioma é o catalão e tinha a reinvindicação histórica de independência de certa forma enterrada. A Catalunha é a região que mais contribui com o PIB espanhol, cerca de 18%, tem o maior PIB entre as regiões espanholas, de  € 210 bilhões, é uma das cinco regiões mais industrializadas  da Europa, lá estão 60% das empresas dos Estados Unidos e da França com sede na Espanha, além das grandes montadoras, como Volkswagen, Nissan, Renault, Siemens, Sony e Microsoft e é a região mais endividada da Espanha, com rombo que já soma € 41 bilhões e um déficit de 3,9% e que depois da crise pela qual vivem a Espanha e a Europa se viu com mais poder de barganha. Além da Catalunha, a Espanha enfrenta movimentos em favor da independência de outra região, o Pais Basco. O País Basco é uma região onde vivem os bascos, que abrange a Espanha e a França, que tem cultura própria, sobretudo seu idioma, o euskera, que em 1978 conquistou alto grau de autonomia do governo espanhol e que possui movimentos separatistas. O ETA (Euskadi Ta Askatasuna) é um grupo terrorista, criado em 1959, que luta pela independência do País Basco, que cometeu inúmeros atentados terroristas na Espanha, deixando um saldo de 800 mortes. Durante a ditadura franquista contou com o apoio da população e apoio internacional por lutar contra o regime e com a redemocratização e devido aos seus atentados e sua violência, combatidos por forte pressão policial por parte do governo espanhol, se viu enfraquecido. Em 2011, o grupo emitiu um comunicado anunciando o final definitivo de toda e qualquer atividade, após 51 anos de violência. A Espanha em crise hoje vê surgir de forma súbita o recrudescimento do movimento de independência da Catalunha e agora convive também com o movimento de independência do País Basco. Eis o diagrama espanhol.












sábado, 1 de dezembro de 2012

Opinião Política - Rixa Entre Israel e Palestina









Nestes dias, a ONU concedeu a Palestina o status de Estado observador não-membro, com 138 países favoráveis, incluindo o Brasil, e nove contrários, entre eles os Estados Unidos e Israel, num gesto simbólico para o reconhecimento do Estado palestino, no dia que comemora os 65 anos da partilha palestina, que previa a criação de uma nação judaica ao lado de uma árabe. Essa decisão, no entanto, não significa a independência da Palestina, mas, com ela, a Palestina poderá ingressar nas agências e órgãos da ONU, o que pode representar mais um passo rumo ao distante processo de paz entre Israel e Palestina. Vale lembrar que há poucos dias Israel e o Hamas estiveram envolvidos em confrontos armados na Faixa de Gaza que deixaram 160 mortos e só tiveram fim com um acordo de cessar-fogo mediado pelo Egito. Cenário vivido em 2009, em que Israel e Hamas se enfrentaram na Faixa de Gaza durante semanas e cujos ataques só foram interrompidos após um cessar-fogo unilateral de Israel, que se seguiu a retirada de tropas. Como se sabe, em 2007 após as eleições palestinas que deram vitória ao Hamas, o Hamas e o Fatah se envolveram em uma breve guerra civil na Faixa de Gaza, vencida pelo Hamas, que expulsou o Fatah do território, que passou a ocupar apenas a Cisjordânia, o que culminou no rompimento entre Hamas e Fatah, marcando a divisão interna da Palestina e um empecilho ao processo de paz com Israel. O Fatah controla a ANP e seu presidente Mahmoud Abbas adota um discurso moderado. Já o Hamas defende a destruição do Estado de Israel, é um grupo terrorista, recebe apoio do Irã, exerce influência por meio de uma ampla rede de programas assistencialistas e sociais e se formou a partir da Irmandade Muçulmana que atua no Egito. Os conflitos tiveram origem a partir de 14 de maio de 1948 quando Israel declarou sua independência, ao longo das discussões iniciadas em 1947 quando a ONU propôs a criação do Estado de Israel, como forma de compensar os horrores do Holocausto vividos pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial e de solucionar o problema da imigração maciça de judeus que entravam em conflito com a população árabe da Palestina, ao lado de um Estado árabe e palestino. Os exércitos do Egito, Jordânia, Síria e Líbano atacaram imediatamente Israel, mas foram derrotados. Em 1967 houve a Guerra dos Seis Dias, em que Israel derrotou Egito, Síria e Jordânia e conquistou de uma só vez toda a Cisjordânia, as Colinas de Golan e Jerusalém Oriental. Em 1973 houve a guerra do Yom Kippur, em que Egito e Síria lançaram uma ofensiva contra Israel, mas foram novamente derrotados. Em 1987, aconteceu a primeira Intifada, em que milhares de palestinos protestaram contra a ocupação israelense. A segunda Intifada aconteceu em 2000, após o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon ter visitado a mesquita Al-Aqsa, considerada sagrada pelos muçulmanos, e que faz parte do Monte do Templo, área sagrada também para os judeus. Desde então atentados terroristas, boicotes de palestinos, lançamento de misseis palestinos, respostas desproporcionais do lado israelense e a sua relutância em devolver os territórios ocupados impedem que a paz se concretize. Inclusive, logo após a medida da ONU, Israel anunciou a decisão de construir 3 mil casas em novos assentamentos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, criticada pelos Estados Unidos e que promete esquentar ainda mais o conflito entre Israel e Palestina, esse conflito que não tem fim.









quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Opinião Política - Pax Colombiana





O governo colombiano e as FARC anunciaram nestes dias a retomada de negociações de paz, o que pode pôr um fim definitivo ao conflito colombiano, um dos conflitos mais antigos da América Latina, iniciado há cerca de 50 anos, que já matou 30 mil pessoas, provocou homicídios, desaparecimentos, sequestros e deslocamentos internos forçados e fez da Colômbia o quinto país mais violento do mundo. O conflito colombiano teve origem nas disputas pelo poder entre liberais, socialistas e conservadores. Os liberais se aliaram aos socialistas para enfrentar os conservadores numa guerra civil que durou 16 anos, de 1948 a 1964. Em 1964, temendo a radicalização da guerrilha camponesa, influenciada pela revolução cubana, os liberais se aliaram aos conservadores e apoiam o envio de tropas ao povoado de Marquetália e os comunistas, em fuga para as regiões montanhosas da selva constituem as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) no início tinha como objetivos criar um estado comunista na Colômbia inspirado em Fidel Castro, promover a distribuição igualitária da renda, fazer a reforma agrária, pôr fim a corrupção e o rompimento das relações com os Estados Unidos. As FARC atuam no meio rural e utilizam táticas de guerrilha. A guerrilha de esquerda ELN (Exército de Libertação Nacional) também passa a atuar na Colômbia, em 1965. Em 1968 é criada uma lei que permite a formação de um exército de direita para lutar contra os guerrilheiros de esquerda. Esse exército foge do controle nacional e em 1997 é criada a Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), formada por paramilitares. As AUC são responsáveis por diversos massacres que ocorrem no país. Na década de 1990 as FARC chegaram a dominar cerca de 40% do território colombiano. No entanto, as ações do exército colombiano, que durante o governo de Álvaro Uribe implanta a política de Segurança Democrática e faz uma ofensiva linha-dura contra o grupo, e o Plano Colômbia, acordo firmado com os Estados Unidos em 2000, que previa um financiamento de 1,3 bilhão de dólares em ajuda financeira para os programas de combate as drogas e cooperação militar dos órgãos de inteligência dos dois países enfraqueceram de vez o grupo, que teve seu líder Manuel Marulanda, o Tirofijo, assassinado em setembro de 2010. Há indícios de que as FARC recebem apoio e proteção do governo de Hugo Chávez e do Equador de Rafael Correa, como ficou evidente no ataque colombiano a um acampamento das FARC em solo equatoriano em 2008. Para sobreviver, o grupo passou a se sustentar por meio do tráfico de drogas e do sequestro de civis, sendo a partir de então considerado uma organização terrorista. Com o tempo, as FARC perderam o apoio da população colombiana que via no grupo uma alternativa para reparar as desigualdades sociais, com a maioria de seus habitantes discordando de sua atuação. Diversas negociações foram feitas entre o governo colombiano e os grupos guerrilheiros, todas fracassaram e somente as AUC se desmobilizaram. As FARC e a ELN lutam para sobreviver. Se o governo de Juan Manuel Santos conseguir negociar a paz com as FARC, uma vez que vem ensaiando uma aproximação com o grupo, um passo importante e histórico será dado na América Latina e poderemos viver finalmente em paz.









segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Opinião Política - Congresso Chinês







Nestes dias, a China, a segunda maior economia do mundo depois dos Estados Unidos, escolhe o seu novo presidente no seu Congresso do Partido Comunista. Trata-se de uma escolha que ocorre a cada dez anos, ocorrida a portas fechadas e de forma não democrática e que deve confirmar o nome de Xi Jinping como presidente, que deve assumir o poder em março. Xi Jinping representa a quarta geração da liderança chinesa após a morte de Mao Tsé-Tung, sucedido respectivamente por Deng Xiaoping, Jiang Zemin e Hu Jintao. Além de definir seus líderes, o Congresso do Partido Comunista serve para discutir o futuro da China, que enfrenta muitos desafios. Por conta da crise econômica de 2008, a China enfrenta a redução de seu ritmo de crescimento econômico, que passou dos 10% anuais na década anterior para uma média de 7,5%, obrigando o país a promover um pacote de estímulo em vez de reformas estruturais. O modelo econômico que tirou 500 milhões de pessoas da pobreza precisa de reformas para continuar crescendo e gerando empregos. As companhias estatais que dominam muitos setores precisam ser abertas para a livre concorrência. O governo precisa dar mais apoio a pequenas e médias empresas.  Combater a corrupção endêmica do governo se torna um objetivo fundamental.  A diferença de renda entre regiões urbanas e rurais aumentou 69% desde 1985, a pobreza prevalece e 480 milhões da população chinesa vive sem acesso a sistema de esgoto e 120 milhões sem água potável. Temendo agitação social, o governo tem implementado programas de erradicação da pobreza. A China é o maior emissor de gases causadores do efeito estufa, com 20 das 30 cidades mais poluídas do mundo, cujo número de carros nas ruas quadruplicou desde 2003 e tudo indica que vai depender do carvão como principal fonte de energia, apesar de ter dobrado anualmente a capacidade de geração de energia eólica desde 2005. Na China, mais de 6 milhões de pessoas se formam em universidades chinesas a cada ano, aumento de seis vezes em relação aos números de 1998, substituindo a demanda por uma economia que crie apenas trabalho e riqueza, pela demanda de serviços melhores e mais liberdade. Hoje, na China, 500 milhões de pessoas usam internet, o que vem ajudando ativistas a organizar protestos contra o governo, apesar do controle governamental.  Mao Tsé-Tung foi o grande líder da Revolução Comunista na China e implementou a Revolução Cultural que arruinou sua economia e gerou fome. A morte de Mao Tsé-Tung permitiu a Deng Xiaoping implementar reformas econômicas, tais como a abertura econômica ao capital estrangeiro,  que permitiram a China ter uma taxa de crescimento econômico de 10% e se tornar a segunda maior economia do mundo. Agora é a vez de Xi Jinping.







sábado, 10 de novembro de 2012

Opinião Política - Um Novo Estados Unidos





O presidente dos Estados Unidos Barack Obama do Partido Democrata foi reeleito, derrotando Mitt Romney, o candidato do Partido Republicano. Os norte-americanos decidiram pela continuidade do governo de mudança implementado por Barack Obama, que aos poucos vem incluindo negros, latinos e mulheres na sociedade americana. No plano internacional, o governo de Barack Obama tem promovido uma política de conciliação com o Mundo Árabe, a América Latina, a África e a Ásia e tem evitado o confronto com Rússia e China. Tal política foi responsável, por um lado, pelo desmantelamento da guerra ao terror de seu antecessor George W. Bush, pela retirada de tropas do Iraque e o anuncio da saída do Afeganistão e, por outro lado, pelo assassinato de Osama Bin Laden, bombardeios na Líbia de Muamar Kadafi, discussão do programa nuclear iraniano e negociações sobre a intervenção militar na Síria. No plano interno, apesar da continuidade da crise de 2008, o governo de Barack Obama tem conseguido estimular a economia e gerar empregos e, apesar de emperrado, aprovou a reforma do sistema de saúde. A vitória de Barack Obama foi saudada pela Europa, pela América Latina, pelo Brasil, pela China, pela Rússia, considerada inimiga por Mitt Romney, e por Israel, que reafirmou a aliança com os Estados Unidos. A vitória dos Democratas representou a escolha da conciliação com o mundo sobre o isolamento dos Republicanos. A reeleição de Barack Obama vai permitir ao seu governo a dar continuidade e aprofundar as grandes mudanças prometidas em sua eleição, que ficaram abaixo das expectativas geradas, talvez por falta de tempo. Assim, tudo indica que os Estados Unidos vão se tornar um novo país, um país mais mestiço, mais liberal, mais moderno, mais pacífico, menos conservador, menos branco, menos tradicional e menos belicoso. Sai Falcões, sai Tea Party, sai Republicanos, sai George w. Bush, sai Tio Sam, entra Tio Obama.






quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Opinião Política - Brasil de 2012









As eleições municipais de 2012 foram marcadas pela renovação dos quadros políticos e pelo equilíbrio e diversidade das forças políticas, em que praticamente todos os partidos políticos conquistaram espaço político sem a formação de uma força hegemônica forte. Em São Paulo, a renovação se revelou nas candidaturas de Celso Russomano do PRB, representante do malufismo, que liderou as pesquisas do 1o turno, de Gabriel Chalita do PMDB, órfão de Orestes Quércia, e Fernando Haddad do PT, que decidiu inovar com seu nome, preterindo os já tradicionais Marta Suplicy e Aloizio Mercadante, escolhido a dedo por Lula, total desconhecido da população paulista e o grande vitorioso do pleito, derrotando o veterano e experiente José Serra do PSDB. A surpreendente derrota de José Serra e a zebra que foi a perda do PSDB de São Paulo para o PT de Lula se deveu ao desgaste do nome de José Serra, que impediu a renovação do PSDB em suas prévias e que escolheria Andrea Matarazzo como candidato, a sua enorme rejeição beirando a casa dos 50%, a má avaliação da gestão de Gilberto Kassab, seu afiliado, que apresentou um índice de 42% de ruim e péssimo, apesar de fazer uma boa administração, a temores de que José Serra abandonaria o cargo daqui dois anos para se candidatar a presidente e governador e devido principalmente ao discurso de renovação adotado por Fernando Haddad do PT. A derrota de José Serra em São Paulo foi estranha, pois Fernando Haddad foi um ministro da educação medíocre e marcado pelas falhas do ENEM, enquanto José Serra foi o melhor ministro da Saúde do Brasil, foi bom prefeito, foi bom governador e contou com o apoio do governador Geraldo Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e São Paulo rejeitava o PT, sob o julgamento do mensalão, sendo a derrota de São Paulo o fim definitivo da carreira política de José Serra, já com idade avançada, a consolidação da candidatura de Aécio Neves para presidente pelo PSDB em 2014 e a necessidade de um nome novo do partido em São Paulo. Em Belo Horizonte, Márcio Lacerda do PSB apoiado pelo senador Aécio Neves derrotou Patrus Ananias do PT, apoiado por Lula e Dilma Rousseff. A oposição saiu mais aliviada do pleito, com a conquista de Salvador por ACM Neto do DEM, a conquista de Manaus por Artur Virgílio, do PSDB, desafeto de Lula e as conquistas do PSDB nas capitais nordestinas, Teresina e Maceió, reduto do PT. O aliado PSB de Eduardo Campos rompeu com o PT em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, elegeu prefeitos em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza surgindo rumores de rompimento da aliança entre PT e PSB para 2014. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes do PMDB foi reeleito, em Curitiba venceu Gustavo Fruet do PDT, em Porto Alegre José Fortunati venceu, e em Vitória venceu Luciano Rezende do PPS, revelando o equilíbrio das forças politicas. O PSOL conquistou sua primeira capital desde a sua criação, vencendo em Macapá. O PSD de Gilberto Kassab conseguiu vencer em Florianópolis. Assim, no balanço geral PT, PSDB, PMDB e PSB elegeram o maior número de prefeitos, sendo o PSB o grande vitorioso, angariando capital político a Eduardo Campos. Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab dá sinais de aproximação com o prefeito eleito Fernando Haddad e de incorporação ao governo Dilma Rousseff do PT, inclusive com sua possível indicação a ministro. O PT se tornou uma força hegemônica ao conquistar São Paulo, além do Brasil, faltando-lhe apenas o governo de São Paulo de Geraldo Alckmin, único bastião da Oposição, vindo com força para essa conquista que pode ficar a cargo de Luís Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo, Alexandre Padilha, ministro da Saúde, Marta Suplicy, ministra da Cultura e Aloizio Mercadante, ministro da Educação. A partir das eleições municipais, Dilma Rousseff do PT, Aécio Neves do PSDB e Eduardo Campos do PSB surgem como os principais nomes para assumir o Palácio do Planalto em 2014. Veremos.









quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Opinião Política - Vai e Volta na Ucrânia





A Ucrânia realizou nestes dias eleições legislativas que deram a vitória ao partido do presidente Victor Yanukovich, pró-russo, e a ex-premiê oposicionista Yulia Tymoshenko, pró-Ocidente, iniciou uma greve de fome em protesto contra supostas fraudes e ameaças a democracia, iniciando um novo capítulo da longa disputa na Ucrânia que nos remete a Revolução Laranja de 2004. A Revolução Laranja consistiu em uma série de protestos que ocorreram em 2004 e 2005 após as eleições presidenciais de 2004, disputadas por Victor Yushenko e Victor Yanukovich. Na ocasião o candidato apoiado pela Rússia Victor Yanukovich foi considerado o vitorioso do pleito, marcado por irregularidades, fraudes e intimidações, dando origem a protestos, greves civis e atos de desobediência civil lideradas por Victor Yushenko e Yulia Tymoshenko. Uma segunda votação foi feita, dando a vitória ao candidato derrotado e apoiado pelo Ocidente Victor Yushenko, que chegou a ser envenenado durante o desenrolar dos fatos, confirmando as suspeitas. Assim, Victor Yushenko se tornou presidente da Ucrânia, nomeando Yulia Tymoshenko como premiêr. Em 2009, como forma de pressionar o governo ucraniano, a Rússia, por meio da Gazprom interrompeu o fornecimento de gás para a Ucrânia, afetando as residências de 16 países da União Européia em pleno inverno rigoroso. A Rússia fornecia 30% do gás consumido pelo continente europeu, sendo que 80% desse volume passavam por gasodutos que atravessavam a Ucrânia. Alegou-se a falta de acordo sobre o preço do gás em negociação, uma vez que os russos queriam a elevação de 179,5 dólares para 250 dólares por cada mil m3, e a Ucrânia insistia em não pagar mais de 201 dólares pelo m3 e queria discutir o valor da tarifa para o trânsito do gás em território ucraniano.  O fornecimento de gás só foi retomado por meio de pressões e a supervisão da União Européia. Nas eleições presidenciais de 2010, no entanto, Yulia Tymoshenko candidata apoiada por Victor Yushenko, foi derrotada por Victor Yanukovich, pondo fim definitivo a Revolução Laranja. Em outubro de 2011, Yulia Tymoshenko foi condenada a sete anos de prisão por abuso de poder na conclusão de acordos de petróleo com uma empresa de gás russa em 2009 que gerou um prejuízo de 200 bilhões de dólares para a Ucrânia, num processo considerado arbitrário e anti-democrático. A Ucrânia, uma das sedes da Eurocopa de 2012, durante seus preparativos, sofreu pressões internacionais por causa de supostos maus-tratos na prisão a ex-premiê Yulia Tymoshenko, com cancelamento de visitas oficiais ao evento e boicotes. Vale lembrar que a Ucrânia se tornou independente da União Soviética em 1991, desde então é alvo de disputa de influência pela Rússia e pelo Ocidente. Além disso, a Ucrânia tem a maior concentração de russos fora do país, é berço da etnia russa e sua população é dividida entre a identidade russa e a identidade européia. Tentam negociar a entrada da Ucrânia na União Européia e na OTAN, assim como a Geórgia, despertando a fúria de Moscou, interessada em recuperar sua zona de influência do período soviético. Enfim, mais um capítulo chega para esquentar a disputa entre a Rússia e Ocidente pela influência da Ucrânia, uma novela que já dura quase dez anos e que nos remete a guerra fria.









segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Opinião Política - Geórgia e o Kremlin






Nestes dias, o poder do presidente Mikhail Saakashvili da Geórgia sofreu um revés político. Em suas eleições legislativas, o partido opositor liderado por Bidzina Ivanishvili conquistou a vitória, ensejando uma mudança política e abrindo espaço para a transferência do poder, uma vez que Saakashvili está no poder há quase uma década, gozava de um Parlamento que lhe era favorável, com seu partido ocupando 119 dos 150 assentos parlamentares e Ivanishvili terá poderes inéditos desde a independência do país da União Soviética, pois uma reforma constitucional recente transferirá muitos dos poderes presidenciais para o primeiro-ministro, após as presidenciais do próximo ano. Vale lembrar que a Geórgia fazia parte da União Soviética, conquistou a sua independência em 1990 e faz parte da Comunidade dos Estados Independentes desde 1994. A Geórgia é localizada as margens do Mar Negro, no Cáucaso, é alvo da disputa geopolítica entre o Ocidente e o Oriente, entre a Europa e a Rússia, entre as nações livres e o Kremlin. Essa disputa é alimentada pelos planos da OTAN e da União Européia de incorporarem o país, gerando duras reações da Rússia, que busca manter, exercer e recuperar a influência sobre os territórios que faziam parte da União Soviética, entrando em choque com os Estados Unidos, interessados em bases aéreas e petróleo. Em 2003, a Geórgia viveu a Revolução Rosa, em que um movimento pacífico e popular liderado por Mikhail Saakashvili, apoiado pelo Ocidente, retirou o presidente Eduard Shevardnadze do poder, desgastado pela corrupção, pelo autoritarismo e pela crise econômica. Mikhail Saakashvili promoveu mudanças pró-ocidentais na ex-república soviética, combateu a corrupção e implementou reformas econômicas, sendo considerado um exemplo de democracia. Em 2008, a Geórgia enfrentou tropas russas ao invadir a Ossétia do Sul, região separatista que faz parte do território georgiano, mas que é habitada por uma população de origem russa e fortemente ligada a Rússia, assim como a Abkházia, num conflito armado que durou cinco dias. O conflito só teve fim quando aceitou-se um plano de paz proposto pela União Européia, pelo qual tropas dos dois lados se retiraram para posições anteriores ao início do conflito. Tal conflito armado acabou por desgastar a imagem de Mikhail Saakashvili e culminar na sua derrota eleitoral. Bidzina Ivanishvili se diz pragmático, que não vai entrar no jogo estratégico das grandes potências, que vai pautar a sua política nos interesses da Geórgia e que vai restabelecer relações amistosas com Moscou sem ser hostil a União Européia, repetindo discurso de líderes da região que no fim acabaram virando as costas para a Europa e seus princípios democráticos e se voltando para Moscou, para o Kremlin.



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Opinião Política - Revolução de Chávez VS Caminho de Capriles





A Venezuela realiza eleições presidenciais nesta semana e tudo indica que o caudilho Hugo Chávez, no poder desde 1998, deve ser reeleito para o seu terceiro mandato de seis anos, mesmo com a união inédita da oposição e sob uma pequena margem de pontos beirando o empate técnico, ameaçando a já despedaçada democracia venezuelana.  O clima do pleito segue quente e intensamente polarizado. Hugo Chávez chegou a falar em guerra civil em caso de derrota e já ameaçou quem ousar reverter as conquistas da sua revolução bolivariana. Nas proximidades de Barinas, um atirador matou três ativistas da oposição em um ato político, levando o governo a anunciar a prisão de três suspeitos.  Hugo Chávez foi diagnosticado há pouco mais de um ano com um tumor na região pélvica, vem exibindo limitações durante a campanha em razão do tratamento ao qual foi submetido e não esbanja mais o mesmo vigor físico que lhe permitia discursar por horas e andar em meio a multidão. Durante seu governo, por um lado, Hugo Chávez reduziu o índice de pobreza da Venezuela de 48% da população em 2002 para 28% em 2010, retirou 30% dos venezuelanos da miséria e alcançou a menor desigualdade de renda da América do Sul. Por outro lado, no entanto, Hugo Chávez abandonou a responsabilidade fiscal para irrigar com verbas públicas seus projetos sociais. Tais iniciativas, chamadas missiones, constituem seu maior trunfo eleitoral. O gasto público subiu 23% em comparação com 2011, as reservas internacionais vêm sendo reduzidas e a petroleira PDVSA repassou U$ 79 bilhões para o governo gastar, o dobro do ano anterior. A dependência do petróleo e o descontrole econômico provocaram inflação de 30%, escassez de dólares para importação, apagões de energia e desabastecimento. E Caracas se tornou uma das capitais mais violentas do mundo. Além disso, o autoritarismo e a destruição da democracia têm sido a marca de seu governo, que chegou inclusive a alterar a Constituição do país. Na Venezuela, o Executivo domina o Legislativo e o Judiciário, vive-se um regime hibrido onde não há mais freios e contrapesos entre os poderes e o Estado é moldado pelos interesses de Chávez. Hugo Chávez pode ainda acionar as milícias bolivarianas recrutadas entre a população desempregada, espalhadas pelo país, leais ao regime e inspiradas nos comitês de defesa do castrismo em Cuba. Henrique Capriles, o candidato da oposição, vem adotando durante a campanha um estilo galanteador e um estilo hiperativo e mostrando todo o seu vigor físico e sua excelente forma física. Henrique Capriles tem prometido mais eficiência, ser o homem novo, fazer um governo conciliador, manter os programas sociais, sabendo que, por um lado, não pode atacá-los e, por outro lado, ao prometer mantê-los presta reconhecimento ao governo. Além disso, tem enfocado a incompetência do governo, que destruiu a PDVSA, desmontou a infraestrutura nacional, gerou inflação e fez a criminalidade disparar. A Venezuela vive um momento tenso e vive sob incertezas acerca de seu futuro em relação a dúvidas ligadas a ser governada por um governo autocrático em seu terceiro mandato e sob um presidente em tratamento ou sob um governo de oposição.