quinta-feira, 24 de março de 2011

Opinião Política - Embaraço Líbio do Brasil

Diante da crise que se abateu na Líbia, finalmente a comunidade internacional, em especial a ONU e a Liga Árabe reagiram ao permitir o bombardeio por parte das Forças Armadas aliadas dos Estados Unidos, dos países europeus e da OTAN das tropas leais a Muamar Kadafi, que vem matando civis e opositores que pedem a sua saída do poder. Aproveito esse espaço para fazer umas constatações políticas do episódio para ilustrar alguns embaraços que ocorrem diante de cenários desse tipo nas Relações Internacionais, como as situações na Líbia, na Sérvia, na Bósnia e no Iraque durante a Guerra do Golfo. Regimes e líderes autoritários são capazes de tudo, inclusive de repressão, atos sanguinários e genocídios contra a própria população. Muitos regimes autoritários dizem combater o terrorismo, mas quando estão em desvantagem e perdem apoio internacional, a primeira coisa que fazem são atentados terroristas e alianças secretas com grupos terroristas, haja vista o fato de no início da crise Muamar Kadafi ter acusado a Al Qaeda de fomentar os protestos e logo quando as grandes potências decidiram reagir contra ele, mudou o discurso ameaçando se aliar a Al Qaeda. Diferentemente da postura de George W. Bush para com o Afeganistão e principalmente com o Iraque, em que o uso da força foi a primeira medida entre outras cogitadas para a região com os Estados Unidos a frente, Barack Obama defendeu o uso da força contra a Líbia como sendo a última alternativa de medida para adotar diante da crise, com o apoio da ONU e com a presença de tropas de outros países na coalizão, refletindo as diferenças existentes entre o Partido Republicano e o Partido Democrata nos Estados Unidos. As grandes potências ficaram em uma situação embaraçosa, uma vez que elas já apoiaram Muamar Kadafi quando este abandonou o terrorismo e agiu de acordo com os interesses do Ocidente, mesmo sendo um ditador sanguinário, abandonando-o nesta ocasião, como fez a Itália de Silvio Berlusconi ao servir de base para os aliados. Rússia e China como sempre não aprovaram a resolução por apoiarem os países párias e para se contrapor aos Estados Unidos. O Brasil se absteve de votar a resolução da ONU, uma vez que o Brasil tem laços comerciais e econômicos com a Líbia. A primeira reação do Brasil foi pedir um cessar-fogo por parte das grandes potências, permitindo assim que Muamar Kadafi atacasse civis, reflexo da miopia da política externa baseada na relação Sul-Sul. Postura essa que foi adotada por Rússia, China e alguns Estados párias como a Venezuela.