Nestes dias, o México
presenciou a vitória nas eleições presidenciais de Enrique Peña Nieto, o
retorno ao poder do PRI, a derrota dos governos do PAN e a contestação dos
resultados de seu pleito por Andrés Manuel López Obrador do PRD. Como se sabe,
o México viveu 70 anos sob a hegemonia do PRI, entre 1930 e 2000, numa ditadura
perfeita, em que prevalecia a corrupção, a fraude eleitoral, o clientelismo, o
corporativismo, o paternalismo, o nacionalismo, a violência, a repressão e a
democracia de fachada. Desde a Revolução Mexicana em 1910, o mesmo agrupamento
político ficou no poder, mudando três vezes de nome, de Partido Nacional Revolucionário
(PNR), em 1929, para Partido da Revolução Mexicana (PRM), em 1938, até que em 1946
mudou para Partido da Revolução Institucional (PRI), fato considerado como o
fim definitivo da Revolução Mexicana. Durante a maior parte do domínio do PRI,
partido que construiu o México moderno, foi feita a reforma agrária, ocorreram
as nacionalizações, houve a nacionalização do petróleo e a criação da PEMEX, ação
empreendida por Lázaro Cárdenas, os sindicatos de trabalhadores, grupos de
camponeses e movimentos sociais ganharam força e foram cooptados e manipulados
pelo governo, o Estado interviu fortemente na economia, prevaleceu o protecionismo
e o modelo de substituição de importações e, por outro lado, o México se
industrializou e houve forte crescimento econômico e relativa prosperidade. Nos
governos de Madrid, Salinas e Gortari, na década de 80, no entanto, foram
introduzidas medidas neoliberais, ditadas pelo FMI e pelo Consenso de
Washington para conter a crise da divida externa mexicana, provocada pelo
aumento dos juros pelo governo norte-americano e pelo choque do petróleo, uma
vez que o crescimento mexicano era baseado no endividamento, e debelar a inflação,
como privatizações, abertura da economia, desregulação financeira e controle
cambial, fugindo do modelo adotado até então e evidenciando a sua falência. No
governo de Ernesto Zedillo estourou a crise financeira mexicana da década de 90,
chamada de efeito tequila, que teve repercussões internacionais e foi em plena globalização,
causada pela falta de reservas internacionais em decorrência da fuga de
capitais provocada pela crise politica provocada pelo levante de Chiapas, evidenciando
a vulnerabilidade a que o México entrou com a adoção das medidas neoliberais, causando
a desvalorização do peso. O governo mexicano, para conter a crise, contou com o
apoio de um pacote de resgate norte-americano autorizado por Bill Clinton e,
como parte do pacote, aprofundou a adoção de medidas neoliberais. Assim, privatizou
as estatais, abriu a economia, aumentou o comércio com os Estados Unidos e o México
passou a integrar o NAFTA, área de livre-comércio envolvendo Estados Unidos,
Canadá e México, em 1994. Além disso, o governo de Ernesto Zedillo adotou reformas
políticas, que por um lado, deram sobrevida ao PRI e por outro, ao lado da
crise econômica, culminaram no fim de sua hegemonia de sete décadas, com a vitória
em 2000 de Vicente Fox do PAN, sigla de direita. Sob o governo de Vicente Fox
do PAN a democracia plena foi consolidada no México, foram adotadas medidas de
cunho neoliberal, reduziu-se a corrupção e conquistou-se a estabilidade
financeira, fatores que garantiram a continuidade do governo do PAN sob Felipe
Calderón. O governo de Felipe Calderón aprofundou as medidas neoliberais,
promoveu reformas nas leis trabalhistas e acelerou o processo de privatização
interna da PEMEX, mais aberta ao capital estrangeiro. Porém, o governo Felipe
Calderón empreendeu uma verdadeira guerra contra os cartéis de drogas, que
contou com a ajuda dos Estados Unidos na sua luta contra o narcotráfico, inclusive
com o envio de tropas do Exército para as ruas, que durante seis anos já deixou
60 mil mortos, gerando denúncias de violação aos direitos humanos, fato que
gerou insatisfação popular e a vitória de Enrique Peña Nieto e de seu PRI. O PRD
de Andrés Manuel López Obrador, de esquerda, assim como fez nas eleições de
2006 que deu vitória a Felipe Calderón do PAN, contestou o resultado, alegou
que houve fraudes no pleito e pediu a recontagem dos votos. A vitória de
Enrique Penã Nieto representa o retorno do PRI ao poder no México, mas com a
promessa de renovação de suas práticas politicas. Só o futuro dirá.