sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Opinião Política - PRI: O Dinossauro Mexicano








Nestes dias, o México presenciou a vitória nas eleições presidenciais de Enrique Peña Nieto, o retorno ao poder do PRI, a derrota dos governos do PAN e a contestação dos resultados de seu pleito por Andrés Manuel López Obrador do PRD. Como se sabe, o México viveu 70 anos sob a hegemonia do PRI, entre 1930 e 2000, numa ditadura perfeita, em que prevalecia a corrupção, a fraude eleitoral, o clientelismo, o corporativismo, o paternalismo, o nacionalismo, a violência, a repressão e a democracia de fachada. Desde a Revolução Mexicana em 1910, o mesmo agrupamento político ficou no poder, mudando três vezes de nome, de Partido Nacional Revolucionário (PNR), em 1929, para Partido da Revolução Mexicana (PRM), em 1938, até que em 1946 mudou para Partido da Revolução Institucional (PRI), fato considerado como o fim definitivo da Revolução Mexicana. Durante a maior parte do domínio do PRI, partido que construiu o México moderno, foi feita a reforma agrária, ocorreram as nacionalizações, houve a nacionalização do petróleo e a criação da PEMEX, ação empreendida por Lázaro Cárdenas, os sindicatos de trabalhadores, grupos de camponeses e movimentos sociais ganharam força e foram cooptados e manipulados pelo governo, o Estado interviu fortemente na economia, prevaleceu o protecionismo e o modelo de substituição de importações e, por outro lado, o México se industrializou e houve forte crescimento econômico e relativa prosperidade. Nos governos de Madrid, Salinas e Gortari, na década de 80, no entanto, foram introduzidas medidas neoliberais, ditadas pelo FMI e pelo Consenso de Washington para conter a crise da divida externa mexicana, provocada pelo aumento dos juros pelo governo norte-americano e pelo choque do petróleo, uma vez que o crescimento mexicano era baseado no endividamento, e debelar a inflação, como privatizações, abertura da economia, desregulação financeira e controle cambial, fugindo do modelo adotado até então e evidenciando a sua falência. No governo de Ernesto Zedillo estourou a crise financeira mexicana da década de 90, chamada de efeito tequila, que teve repercussões internacionais e foi em plena globalização, causada pela falta de reservas internacionais em decorrência da fuga de capitais provocada pela crise politica provocada pelo levante de Chiapas, evidenciando a vulnerabilidade a que o México entrou com a adoção das medidas neoliberais, causando a desvalorização do peso. O governo mexicano, para conter a crise, contou com o apoio de um pacote de resgate norte-americano autorizado por Bill Clinton e, como parte do pacote, aprofundou a adoção de medidas neoliberais. Assim, privatizou as estatais, abriu a economia, aumentou o comércio com os Estados Unidos e o México passou a integrar o NAFTA, área de livre-comércio envolvendo Estados Unidos, Canadá e México, em 1994. Além disso, o governo de Ernesto Zedillo adotou reformas políticas, que por um lado, deram sobrevida ao PRI e por outro, ao lado da crise econômica, culminaram no fim de sua hegemonia de sete décadas, com a vitória em 2000 de Vicente Fox do PAN, sigla de direita. Sob o governo de Vicente Fox do PAN a democracia plena foi consolidada no México, foram adotadas medidas de cunho neoliberal, reduziu-se a corrupção e conquistou-se a estabilidade financeira, fatores que garantiram a continuidade do governo do PAN sob Felipe Calderón. O governo de Felipe Calderón aprofundou as medidas neoliberais, promoveu reformas nas leis trabalhistas e acelerou o processo de privatização interna da PEMEX, mais aberta ao capital estrangeiro. Porém, o governo Felipe Calderón empreendeu uma verdadeira guerra contra os cartéis de drogas, que contou com a ajuda dos Estados Unidos na sua luta contra o narcotráfico, inclusive com o envio de tropas do Exército para as ruas, que durante seis anos já deixou 60 mil mortos, gerando denúncias de violação aos direitos humanos, fato que gerou insatisfação popular e a vitória de Enrique Peña Nieto e de seu PRI. O PRD de Andrés Manuel López Obrador, de esquerda, assim como fez nas eleições de 2006 que deu vitória a Felipe Calderón do PAN, contestou o resultado, alegou que houve fraudes no pleito e pediu a recontagem dos votos. A vitória de Enrique Penã Nieto representa o retorno do PRI ao poder no México, mas com a promessa de renovação de suas práticas politicas. Só o futuro dirá.