O Egito foi tomado nesses dias por
novos e intensos protestos nas ruas, no momento em que se completam dois anos
da queda do ditador Hosni Mubarak, lembrando cenas da chamada Primavera Árabe. Os
protestos se espalharam por várias partes do país e a praça Tahir, no centro de
Cairo, foi novamente ocupada por uma imensa multidão, fazendo com que as
autoridades decretassem estado de emergência e anunciassem que tal crise
política pode levar ao colapso do Estado, havendo a perda de confiança nas
instituições e a sensação de ausência de lei e ordem. Dessa vez, os protestos
se voltam contra o presidente Mohammed Mursi da Irmandade Muçulmana, eleito
democraticamente, nas primeiras eleições livres do país e que elegeu um civil.
Os protestos são contra a ampliação dos poderes de Mohammed Mursi e a aprovação
da nova Constituição, que muitos dizem favorecer a parcela islâmica da
população. Acusam o presidente Mohammed Mursi de trair os ideais da revolução e
de tentar impor uma ditadura islâmica, nos moldes do Irã, no país. Vale lembrar
que a Irmandade Muçulmana, hoje no poder, é a maior e mais antiga organização
islâmica do Egito. Fundada em 1928, com o objetivo de espalhar os preceitos do
Islã, o movimento teve seus ideais disseminados rapidamente e, no fim da década
de 1940, estimava-se que possuísse 2 milhões de seguidores no Egito. Logo o
movimento ganhou ramificações em outras nações árabes, como a Síria e o Iraque.
Em meados da década de 1950, a ascensão do teólogo Sayyid Qtub como liderança
pôs a Irmandade Muçulmana no caminho do radicalismo. Qutb foi e continua sendo
inspiração para grupos como o Hamas, o Hesbolah e até mesmo a Al Qaeda,
prestando ajuda em dinheiro. Apesar de afirmar ter adotado o caminho da
moderação e da renúncia a violência, o movimento desperta temor e desconfiança
no Egito e no Ocidente, pois um de seus objetivos é criar gradualmente um
Estado regido pela lei islâmica, a sharia. Além disso, o Egito viveu 30 anos
sob a ditadura de Hosni Mubarak que obteve algum crescimento econômico, controlou
a população com mãos de ferro e contou com o apoio dos Estados Unidos, de Israel
e do Ocidente. No entanto, tal crescimento econômico não melhorou a vida da
população egípcia, que conviveu anos com a corrupção de Hosni Mubarak e a
pobreza. O Egito viveu 30 anos sob a ditadura de Hosni Mubarak e agora caminha
para a ditadura do Islã.