A Venezuela realiza eleições presidenciais nesta semana e
tudo indica que o caudilho Hugo Chávez, no poder desde 1998, deve ser reeleito
para o seu terceiro mandato de seis anos, mesmo com a união inédita da oposição
e sob uma pequena margem de pontos beirando o empate técnico, ameaçando a já
despedaçada democracia venezuelana. O
clima do pleito segue quente e intensamente polarizado. Hugo Chávez chegou a
falar em guerra civil em caso de derrota e já ameaçou quem ousar reverter as
conquistas da sua revolução bolivariana. Nas proximidades de Barinas, um atirador
matou três ativistas da oposição em um ato político, levando o governo a
anunciar a prisão de três suspeitos. Hugo
Chávez foi diagnosticado há pouco mais de um ano com um tumor na região pélvica,
vem exibindo limitações durante a campanha em razão do tratamento ao qual foi
submetido e não esbanja mais o mesmo vigor físico que lhe permitia discursar
por horas e andar em meio a multidão. Durante seu governo, por um lado, Hugo Chávez
reduziu o índice de pobreza da Venezuela de 48% da população em 2002 para 28%
em 2010, retirou 30% dos venezuelanos da miséria e alcançou a menor desigualdade
de renda da América do Sul. Por outro lado, no entanto, Hugo Chávez abandonou a
responsabilidade fiscal para irrigar com verbas públicas seus projetos sociais.
Tais iniciativas, chamadas missiones, constituem seu maior trunfo eleitoral. O
gasto público subiu 23% em comparação com 2011, as reservas internacionais vêm
sendo reduzidas e a petroleira PDVSA repassou U$ 79 bilhões para o governo
gastar, o dobro do ano anterior. A dependência do petróleo e o descontrole econômico
provocaram inflação de 30%, escassez de dólares para importação, apagões de
energia e desabastecimento. E Caracas se tornou uma das capitais mais violentas
do mundo. Além disso, o autoritarismo e a destruição da democracia têm sido a
marca de seu governo, que chegou inclusive a alterar a Constituição do país. Na
Venezuela, o Executivo domina o Legislativo e o Judiciário, vive-se um regime
hibrido onde não há mais freios e contrapesos entre os poderes e o Estado é
moldado pelos interesses de Chávez. Hugo Chávez pode ainda acionar as milícias bolivarianas
recrutadas entre a população desempregada, espalhadas pelo país, leais ao
regime e inspiradas nos comitês de defesa do castrismo em Cuba. Henrique Capriles,
o candidato da oposição, vem adotando durante a campanha um estilo galanteador
e um estilo hiperativo e mostrando todo o seu vigor físico e sua excelente
forma física. Henrique Capriles tem prometido mais eficiência, ser o homem
novo, fazer um governo conciliador, manter os programas sociais, sabendo que,
por um lado, não pode atacá-los e, por outro lado, ao prometer mantê-los presta
reconhecimento ao governo. Além disso, tem enfocado a incompetência do governo,
que destruiu a PDVSA, desmontou a infraestrutura nacional, gerou inflação e fez
a criminalidade disparar. A Venezuela vive um momento tenso e vive sob
incertezas acerca de seu futuro em relação a dúvidas ligadas a ser governada
por um governo autocrático em seu terceiro mandato e sob um presidente em
tratamento ou sob um governo de oposição.