Nestes dias, a Venezuela de Hugo Chávez entrou no Mercosul, a
revelia do Paraguai, numa armação rápida e bem forjada, despertando interesse e
abrindo espaço para os governos bolivarianos de Bolívia e Equador, o que
promete fazer o bloco pegar fogo literalmente. Como se sabe, o Paraguai foi
suspenso do bloco pelos demais membros, a primeira expulsão do Mercosul desde a
sua criação, logo depois do impeachment de Fernando Lugo e como punição ao
processo relâmpago, o que facilitou a entrada de atropelo da Venezuela, uma vez
que o Congresso paraguaio impunha obstáculos ao seu pleito. O Paraguai foi expulso
do bloco porque feriu a cláusula democrática, que estabelece que apenas
democracias podem fazer parte do Mercosul, uma vez que o impeachment de
Fernando Lugo foi considerado ilegal e um golpe de Estado pelos demais membros,
mas aceitou-se a entrada da Venezuela, uma verdadeira ditadura e tirania de
Hugo Chávez, num processo de dois pesos e duas medidas. O Brasil alegou que aceitou
a entrada da Venezuela no Mercosul porque com isso o bloco sai fortalecido, se
tornando a quinta maior economia mundial, após Estados Unidos, China, Alemanha
e Japão, se transformando numa potência energética global, em vista das reservas
de petróleo encontradas na Venezuela, uma das maiores do mundo, passando a se estender
da Patagônia ao Caribe e facilitando o processo de integração sul-americano. Além
disso, o governo brasileiro frisou que ao longo da última década aumentou-se
sete vezes as relações comerciais entre o Mercosul e a Venezuela. Um verdadeiro
discurso nacionalista e ufanista. Com a entrada da Venezuela de Hugo Chávez no
bloco, corre-se o risco de falharem as negociações entre o Mercosul e a União Europeia
e os Estados Unidos. Além disso, tem o
risco Chávez com seu autoritarismo e protecionismo, verdadeiras ameaças a
democracia e ao livre-comércio, bases do Mercosul. Como se sabe, o Mercosul foi
criado em 1991, pelo Tratado de Assunção, ganhou personalidade jurídica em 1994
com o Protocolo de Ouro Preto, tinha como objetivo ser um mercado comum, com
tarifa externa comum, livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos e
coordenação de políticas macroeconômicas, era formado por Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai, aceitou a entrada de Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia
como membros associados, analisava o pedido de adesão da Venezuela como membro
pleno e exerceu influência direta na criação em 2008 da UNASUL (União das Nações
Sul-Americanas). De 1991 a 2008, o comércio no Mercosul passou de cerca de
quatro para mais de trinta bilhões de dólares, mas não sem alguns problemas. O
Mercosul viu seu comércio reduzido com a desvalorização do real em 1999 e a crise
da Argentina em 2001-2002, recuperando-se com a retomada do crescimento econômico
das nações que a compõem no século XXI. A Argentina tem imposto medidas protecionistas
a exportadores de produtos manufaturados brasileiros para proteger a sua indústria,
criando-se assim restrições e barreiras ao livre-comércio do bloco e evidenciando
a assimetria existente no bloco, que é combatida com a criação de fundos e
outros mecanismos financeiros em favor das economias mais fracas. Além disso, o
Mercosul hoje cumpre parcialmente os objetivos de livre circulação de bens,
serviços e fatores produtivos e coordenação das políticas macroeconômicas. A
Venezuela de Hugo Chávez entrou no Mercosul de uma forma arbitrária e forjada e
abriu as portas para a Bolívia de Evo Morales e Equador de Rafael Correa, o que
promete arruinar de vez o bloco em vista do caráter antidemocrático e protecionista
de seus líderes bolivarianos, enquanto o Paraguai foi expulso porque feriu a
democracia, ações orquestradas com o apoio de Dilma Rousseff, revelando a contradição
da política externa brasileira, uma verdadeira miopia.
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