Nestes dias, o poder do presidente Mikhail
Saakashvili da Geórgia sofreu um revés político. Em suas eleições legislativas,
o partido opositor liderado por Bidzina Ivanishvili conquistou a vitória,
ensejando uma mudança política e abrindo espaço para a transferência do poder,
uma vez que Saakashvili está no poder há quase uma década, gozava de um
Parlamento que lhe era favorável, com seu partido ocupando 119 dos 150 assentos
parlamentares e Ivanishvili terá poderes inéditos desde a independência do país
da União Soviética, pois uma reforma constitucional recente transferirá muitos
dos poderes presidenciais para o primeiro-ministro, após as presidenciais do
próximo ano. Vale lembrar que a Geórgia fazia parte da União Soviética,
conquistou a sua independência em 1990 e faz parte da Comunidade dos Estados
Independentes desde 1994. A Geórgia é localizada as margens do Mar Negro, no Cáucaso,
é alvo da disputa geopolítica entre o Ocidente e o Oriente, entre a Europa e a
Rússia, entre as nações livres e o Kremlin. Essa disputa é alimentada pelos
planos da OTAN e da União Européia de incorporarem o país, gerando duras reações
da Rússia, que busca manter, exercer e recuperar a influência sobre os territórios
que faziam parte da União Soviética, entrando em choque com os Estados Unidos,
interessados em bases aéreas e petróleo. Em 2003, a Geórgia viveu a Revolução
Rosa, em que um movimento pacífico e popular liderado por Mikhail Saakashvili,
apoiado pelo Ocidente, retirou o presidente Eduard Shevardnadze do poder,
desgastado pela corrupção, pelo autoritarismo e pela crise econômica. Mikhail
Saakashvili promoveu mudanças pró-ocidentais na ex-república soviética,
combateu a corrupção e implementou reformas econômicas, sendo considerado um
exemplo de democracia. Em 2008, a Geórgia enfrentou tropas russas ao invadir a Ossétia
do Sul, região separatista que faz parte do território georgiano, mas que é habitada
por uma população de origem russa e fortemente ligada a Rússia, assim como a Abkházia,
num conflito armado que durou cinco dias. O conflito só teve fim quando aceitou-se
um plano de paz proposto pela União Européia, pelo qual tropas dos dois lados
se retiraram para posições anteriores ao início do conflito. Tal conflito
armado acabou por desgastar a imagem de Mikhail Saakashvili e culminar na sua
derrota eleitoral. Bidzina Ivanishvili se diz pragmático, que não vai entrar no
jogo estratégico das grandes potências, que vai pautar a sua política nos
interesses da Geórgia e que vai restabelecer relações amistosas com Moscou sem
ser hostil a União Européia, repetindo discurso de líderes da região que no fim
acabaram virando as costas para a Europa e seus princípios democráticos e se voltando
para Moscou, para o Kremlin.
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