segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Opinião Política - Geórgia e o Kremlin






Nestes dias, o poder do presidente Mikhail Saakashvili da Geórgia sofreu um revés político. Em suas eleições legislativas, o partido opositor liderado por Bidzina Ivanishvili conquistou a vitória, ensejando uma mudança política e abrindo espaço para a transferência do poder, uma vez que Saakashvili está no poder há quase uma década, gozava de um Parlamento que lhe era favorável, com seu partido ocupando 119 dos 150 assentos parlamentares e Ivanishvili terá poderes inéditos desde a independência do país da União Soviética, pois uma reforma constitucional recente transferirá muitos dos poderes presidenciais para o primeiro-ministro, após as presidenciais do próximo ano. Vale lembrar que a Geórgia fazia parte da União Soviética, conquistou a sua independência em 1990 e faz parte da Comunidade dos Estados Independentes desde 1994. A Geórgia é localizada as margens do Mar Negro, no Cáucaso, é alvo da disputa geopolítica entre o Ocidente e o Oriente, entre a Europa e a Rússia, entre as nações livres e o Kremlin. Essa disputa é alimentada pelos planos da OTAN e da União Européia de incorporarem o país, gerando duras reações da Rússia, que busca manter, exercer e recuperar a influência sobre os territórios que faziam parte da União Soviética, entrando em choque com os Estados Unidos, interessados em bases aéreas e petróleo. Em 2003, a Geórgia viveu a Revolução Rosa, em que um movimento pacífico e popular liderado por Mikhail Saakashvili, apoiado pelo Ocidente, retirou o presidente Eduard Shevardnadze do poder, desgastado pela corrupção, pelo autoritarismo e pela crise econômica. Mikhail Saakashvili promoveu mudanças pró-ocidentais na ex-república soviética, combateu a corrupção e implementou reformas econômicas, sendo considerado um exemplo de democracia. Em 2008, a Geórgia enfrentou tropas russas ao invadir a Ossétia do Sul, região separatista que faz parte do território georgiano, mas que é habitada por uma população de origem russa e fortemente ligada a Rússia, assim como a Abkházia, num conflito armado que durou cinco dias. O conflito só teve fim quando aceitou-se um plano de paz proposto pela União Européia, pelo qual tropas dos dois lados se retiraram para posições anteriores ao início do conflito. Tal conflito armado acabou por desgastar a imagem de Mikhail Saakashvili e culminar na sua derrota eleitoral. Bidzina Ivanishvili se diz pragmático, que não vai entrar no jogo estratégico das grandes potências, que vai pautar a sua política nos interesses da Geórgia e que vai restabelecer relações amistosas com Moscou sem ser hostil a União Européia, repetindo discurso de líderes da região que no fim acabaram virando as costas para a Europa e seus princípios democráticos e se voltando para Moscou, para o Kremlin.



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