O governo colombiano e as FARC anunciaram nestes dias a
retomada de negociações de paz, o que pode pôr um fim definitivo ao conflito
colombiano, um dos conflitos mais antigos da América Latina, iniciado há cerca
de 50 anos, que já matou 30 mil pessoas, provocou homicídios, desaparecimentos,
sequestros e deslocamentos internos forçados e fez da Colômbia o quinto país
mais violento do mundo. O conflito colombiano teve origem nas disputas pelo
poder entre liberais, socialistas e conservadores. Os liberais se aliaram aos
socialistas para enfrentar os conservadores numa guerra civil que durou 16
anos, de 1948 a 1964. Em 1964, temendo a radicalização da guerrilha camponesa,
influenciada pela revolução cubana, os liberais se aliaram aos conservadores e apoiam
o envio de tropas ao povoado de Marquetália e os comunistas, em fuga para as regiões
montanhosas da selva constituem as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. As
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) no início tinha como
objetivos criar um estado comunista na Colômbia inspirado em Fidel Castro,
promover a distribuição igualitária da renda, fazer a reforma agrária, pôr fim a
corrupção e o rompimento das relações com os Estados Unidos. As FARC atuam no meio
rural e utilizam táticas de guerrilha. A guerrilha de esquerda ELN (Exército de
Libertação Nacional) também passa a atuar na Colômbia, em 1965. Em 1968 é
criada uma lei que permite a formação de um exército de direita para lutar contra
os guerrilheiros de esquerda. Esse exército foge do controle nacional e em 1997
é criada a Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), formada por paramilitares. As
AUC são responsáveis por diversos massacres que ocorrem no país. Na década de
1990 as FARC chegaram a dominar cerca de 40% do território colombiano. No
entanto, as ações do exército colombiano, que durante o governo de Álvaro Uribe
implanta a política de Segurança Democrática e faz uma ofensiva linha-dura
contra o grupo, e o Plano Colômbia, acordo firmado com os Estados Unidos em 2000,
que previa um financiamento de 1,3 bilhão de dólares em ajuda financeira para
os programas de combate as drogas e cooperação militar dos órgãos de
inteligência dos dois países enfraqueceram de vez o grupo, que teve seu líder Manuel
Marulanda, o Tirofijo, assassinado em setembro de 2010. Há indícios de que as
FARC recebem apoio e proteção do governo de Hugo Chávez e do Equador de Rafael
Correa, como ficou evidente no ataque colombiano a um acampamento das FARC em
solo equatoriano em 2008. Para sobreviver, o grupo passou a se sustentar por
meio do tráfico de drogas e do sequestro de civis, sendo a partir de então considerado
uma organização terrorista. Com o tempo, as FARC perderam o apoio da população colombiana
que via no grupo uma alternativa para reparar as desigualdades sociais, com a
maioria de seus habitantes discordando de sua atuação. Diversas negociações foram
feitas entre o governo colombiano e os grupos guerrilheiros, todas fracassaram
e somente as AUC se desmobilizaram. As FARC e a ELN lutam para sobreviver. Se o
governo de Juan Manuel Santos conseguir negociar a paz com as FARC, uma vez que
vem ensaiando uma aproximação com o grupo, um passo importante e histórico será
dado na América Latina e poderemos viver finalmente em paz.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Opinião Política - Congresso Chinês
Nestes dias, a China, a segunda maior
economia do mundo depois dos Estados Unidos, escolhe o seu novo presidente no
seu Congresso do Partido Comunista. Trata-se de uma escolha que ocorre a cada
dez anos, ocorrida a portas fechadas e de forma não democrática e que deve
confirmar o nome de Xi Jinping como presidente, que deve assumir o poder em
março. Xi Jinping representa a quarta geração da liderança chinesa após a morte
de Mao Tsé-Tung, sucedido respectivamente por Deng Xiaoping, Jiang Zemin e Hu
Jintao. Além de definir seus líderes, o Congresso do Partido Comunista serve para
discutir o futuro da China, que enfrenta muitos desafios. Por conta da crise econômica
de 2008, a China enfrenta a redução de seu ritmo de crescimento econômico, que
passou dos 10% anuais na década anterior para uma média de 7,5%, obrigando o
país a promover um pacote de estímulo em vez de reformas estruturais. O modelo econômico
que tirou 500 milhões de pessoas da pobreza precisa de reformas para continuar
crescendo e gerando empregos. As companhias estatais que dominam muitos setores
precisam ser abertas para a livre concorrência. O governo precisa dar mais
apoio a pequenas e médias empresas. Combater
a corrupção endêmica do governo se torna um objetivo fundamental. A diferença de renda entre regiões urbanas e
rurais aumentou 69% desde 1985, a pobreza prevalece e 480 milhões da população chinesa
vive sem acesso a sistema de esgoto e 120 milhões sem água potável. Temendo agitação
social, o governo tem implementado programas de erradicação da pobreza. A China
é o maior emissor de gases causadores do efeito estufa, com 20 das 30 cidades
mais poluídas do mundo, cujo número de carros nas ruas quadruplicou desde 2003
e tudo indica que vai depender do carvão como principal fonte de energia,
apesar de ter dobrado anualmente a capacidade de geração de energia eólica desde
2005. Na China, mais de 6 milhões de pessoas se formam em universidades
chinesas a cada ano, aumento de seis vezes em relação aos números de 1998,
substituindo a demanda por uma economia que crie apenas trabalho e riqueza, pela
demanda de serviços melhores e mais liberdade. Hoje, na China, 500 milhões de
pessoas usam internet, o que vem ajudando ativistas a organizar protestos
contra o governo, apesar do controle governamental. Mao Tsé-Tung foi o grande líder da Revolução
Comunista na China e implementou a Revolução Cultural que arruinou sua economia
e gerou fome. A morte de Mao Tsé-Tung permitiu a Deng Xiaoping implementar
reformas econômicas, tais como a abertura econômica ao capital estrangeiro, que permitiram a China ter uma taxa de
crescimento econômico de 10% e se tornar a segunda maior economia do mundo. Agora
é a vez de Xi Jinping.
sábado, 10 de novembro de 2012
Opinião Política - Um Novo Estados Unidos
O presidente dos Estados Unidos
Barack Obama do Partido Democrata foi reeleito, derrotando Mitt Romney, o
candidato do Partido Republicano. Os norte-americanos decidiram pela
continuidade do governo de mudança implementado por Barack Obama, que aos
poucos vem incluindo negros, latinos e mulheres na sociedade americana. No
plano internacional, o governo de Barack Obama tem promovido uma política de conciliação
com o Mundo Árabe, a América Latina, a África e a Ásia e tem evitado o
confronto com Rússia e China. Tal política foi responsável, por um lado, pelo
desmantelamento da guerra ao terror de seu antecessor George W. Bush, pela
retirada de tropas do Iraque e o anuncio da saída do Afeganistão e, por outro
lado, pelo assassinato de Osama Bin Laden, bombardeios na Líbia de Muamar
Kadafi, discussão do programa nuclear iraniano e negociações sobre a intervenção
militar na Síria. No plano interno, apesar da continuidade da crise de 2008, o
governo de Barack Obama tem conseguido estimular a economia e gerar empregos e,
apesar de emperrado, aprovou a reforma do sistema de saúde. A vitória de Barack
Obama foi saudada pela Europa, pela América Latina, pelo Brasil, pela China,
pela Rússia, considerada inimiga por Mitt Romney, e por Israel, que reafirmou a
aliança com os Estados Unidos. A vitória dos Democratas representou a escolha
da conciliação com o mundo sobre o isolamento dos Republicanos. A reeleição de
Barack Obama vai permitir ao seu governo a dar continuidade e aprofundar as
grandes mudanças prometidas em sua eleição, que ficaram abaixo das expectativas
geradas, talvez por falta de tempo. Assim, tudo indica que os Estados Unidos vão
se tornar um novo país, um país mais mestiço, mais liberal, mais moderno, mais
pacífico, menos conservador, menos branco, menos tradicional e menos belicoso.
Sai Falcões, sai Tea Party, sai Republicanos, sai George w. Bush, sai Tio Sam,
entra Tio Obama.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Opinião Política - Brasil de 2012
As eleições municipais de 2012 foram
marcadas pela renovação dos quadros políticos e pelo equilíbrio e diversidade
das forças políticas, em que praticamente todos os partidos políticos
conquistaram espaço político sem a formação de uma força hegemônica forte. Em
São Paulo, a renovação se revelou nas candidaturas de Celso Russomano do PRB,
representante do malufismo, que liderou as pesquisas do 1o turno, de
Gabriel Chalita do PMDB, órfão de Orestes Quércia, e Fernando Haddad do PT, que
decidiu inovar com seu nome, preterindo os já tradicionais Marta Suplicy e
Aloizio Mercadante, escolhido a dedo por Lula, total desconhecido da população
paulista e o grande vitorioso do pleito, derrotando o veterano e experiente José
Serra do PSDB. A surpreendente derrota de José Serra e a zebra que foi a perda
do PSDB de São Paulo para o PT de Lula se deveu ao desgaste do nome de José
Serra, que impediu a renovação do PSDB em suas prévias e que escolheria Andrea
Matarazzo como candidato, a sua enorme rejeição beirando a casa dos 50%, a má avaliação
da gestão de Gilberto Kassab, seu afiliado, que apresentou um índice de 42% de
ruim e péssimo, apesar de fazer uma boa administração, a temores de que José
Serra abandonaria o cargo daqui dois anos para se candidatar a presidente e
governador e devido principalmente ao discurso de renovação adotado por
Fernando Haddad do PT. A derrota de José Serra em São Paulo foi estranha, pois
Fernando Haddad foi um ministro da educação medíocre e marcado pelas falhas do
ENEM, enquanto José Serra foi o melhor ministro da Saúde do Brasil, foi bom
prefeito, foi bom governador e contou com o apoio do governador Geraldo Alckmin
e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e São Paulo rejeitava o PT, sob o
julgamento do mensalão, sendo a derrota de São Paulo o fim definitivo da
carreira política de José Serra, já com idade avançada, a consolidação da candidatura
de Aécio Neves para presidente pelo PSDB em 2014 e a necessidade de um nome
novo do partido em São Paulo. Em Belo Horizonte, Márcio Lacerda do PSB apoiado
pelo senador Aécio Neves derrotou Patrus Ananias do PT, apoiado por Lula e
Dilma Rousseff. A oposição saiu mais aliviada do pleito, com a conquista de
Salvador por ACM Neto do DEM, a conquista de Manaus por Artur Virgílio, do
PSDB, desafeto de Lula e as conquistas do PSDB nas capitais nordestinas,
Teresina e Maceió, reduto do PT. O aliado PSB de Eduardo Campos rompeu com o PT
em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, elegeu prefeitos em Belo Horizonte, Recife
e Fortaleza surgindo rumores de rompimento da aliança entre PT e PSB para 2014.
No Rio de Janeiro, Eduardo Paes do PMDB foi reeleito, em Curitiba venceu
Gustavo Fruet do PDT, em Porto Alegre José Fortunati venceu, e em Vitória
venceu Luciano Rezende do PPS, revelando o equilíbrio das forças politicas. O
PSOL conquistou sua primeira capital desde a sua criação, vencendo em Macapá. O
PSD de Gilberto Kassab conseguiu vencer em Florianópolis. Assim, no balanço
geral PT, PSDB, PMDB e PSB elegeram o maior número de prefeitos, sendo o PSB o
grande vitorioso, angariando capital político a Eduardo Campos. Em São Paulo, o
prefeito Gilberto Kassab dá sinais de aproximação com o prefeito eleito
Fernando Haddad e de incorporação ao governo Dilma Rousseff do PT, inclusive
com sua possível indicação a ministro. O PT se tornou uma força hegemônica ao
conquistar São Paulo, além do Brasil, faltando-lhe apenas o governo de São Paulo
de Geraldo Alckmin, único bastião da Oposição, vindo com força para essa
conquista que pode ficar a cargo de Luís Marinho, prefeito de São Bernardo do
Campo, Alexandre Padilha, ministro da Saúde, Marta Suplicy, ministra da Cultura
e Aloizio Mercadante, ministro da Educação. A partir das eleições municipais, Dilma
Rousseff do PT, Aécio Neves do PSDB e Eduardo Campos do PSB surgem como os principais
nomes para assumir o Palácio do Planalto em 2014. Veremos.
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