A Turquia é um país complexo e vive vários
dilemas ao mesmo tempo. No plano interno, a Turquia viveu um processo de secularização
empreendido a mãos de ferro por Ataturk, o pai da Turquia moderna, que tornou a
Turquia um país laico e buscou livrá-lo de qualquer influência islâmica. Tanto
assim que o Exército é o responsável por vigiar e proteger o país dessa influência
islâmica, impedindo a chegada ao poder de um governo islâmico e dando golpes de
Estado contra governos que adotassem medidas de caráter islâmico. Vale lembrar
que a Turquia é remanescente do antigo Império Otomano, bastião e defensor do
Islã. A Turquia não é uma democracia plena, persegue opositores, persegue a
imprensa, mantém prisões políticas medonhas, viola os direitos humanos,
restringe protestos e reprime manifestações. Haja vista a forma como reprime as
manifestações e as declarações de independência dos curdos. No plano externo, a
Turquia se localiza entre dois continentes, Europa e Ásia, ora se identificando
com uma ora com outra região, como fica evidente quando a Turquia participa dos
torneios de futebol como europeu e quando critica os ataques israelenses na Cisjordânia
e na Faixa de Gaza, nos territórios palestinos. A Turquia é um dos aliados dos
Estados Unidos, faz parte da OTAN e quer ingressar na União Européia, mas sofre
restrições por parte deles porque grande parte de sua população é muçulmana e
professa o islamismo, num verdadeiro choque cultural. A Turquia é repreendida
pela Comunidade Internacional por não reconhecer o genocídio de armênios cometido
pelo Império Otomano em 1915, no episódio que provocou a morte de 1,5 milhão de
armênios. A Turquia enfrenta rusgas diplomáticas com a Grécia, devido a disputa
por influência da ilha de Chipre, que segue dividida por áreas de influência
grega e turca, sendo esta instalada por meio de um golpe de Estado apoiado pela
Turquia, inclusive com o envio de tropas turcas. O maior desafio da Turquia é
fazer parte da União Européia, hoje em crise, que impõe diversas exigências a
Turquia para entrar no clube. Eles exigem que a Turquia seja uma democracia
plena, não use a violência contra os curdos, reconheça o genocídio dos armênios,
retire tropas de Chipre e adote reformas econômicas, mas desconfiam do país por
ter população muçulmana e de ser pobre em relação aos países europeus, temendo
sua imigração. Eis o quebra-cabeça turco.
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