A Ucrânia realizou nestes dias eleições legislativas que
deram a vitória ao partido do presidente Victor Yanukovich, pró-russo, e a
ex-premiê oposicionista Yulia Tymoshenko, pró-Ocidente, iniciou uma greve de
fome em protesto contra supostas fraudes e ameaças a democracia, iniciando um
novo capítulo da longa disputa na Ucrânia que nos remete a Revolução Laranja de
2004. A Revolução Laranja consistiu em uma série de protestos que ocorreram em
2004 e 2005 após as eleições presidenciais de 2004, disputadas por Victor
Yushenko e Victor Yanukovich. Na ocasião o candidato apoiado pela Rússia Victor
Yanukovich foi considerado o vitorioso do pleito, marcado por irregularidades,
fraudes e intimidações, dando origem a protestos, greves civis e atos de desobediência
civil lideradas por Victor Yushenko e Yulia Tymoshenko. Uma segunda votação foi
feita, dando a vitória ao candidato derrotado e apoiado pelo Ocidente Victor
Yushenko, que chegou a ser envenenado durante o desenrolar dos fatos,
confirmando as suspeitas. Assim, Victor Yushenko se tornou presidente da Ucrânia,
nomeando Yulia Tymoshenko como premiêr. Em 2009, como forma de pressionar o
governo ucraniano, a Rússia, por meio da Gazprom interrompeu o fornecimento de gás
para a Ucrânia, afetando as residências de 16 países da União Européia em pleno
inverno rigoroso. A Rússia fornecia 30% do gás consumido pelo continente
europeu, sendo que 80% desse volume passavam por gasodutos que atravessavam a Ucrânia.
Alegou-se a falta de acordo sobre o preço do gás em negociação, uma vez que os
russos queriam a elevação de 179,5 dólares para 250 dólares por cada mil m3,
e a Ucrânia insistia em não pagar mais de 201 dólares pelo m3 e
queria discutir o valor da tarifa para o trânsito do gás em território ucraniano.
O fornecimento de gás só foi retomado
por meio de pressões e a supervisão da União Européia. Nas eleições
presidenciais de 2010, no entanto, Yulia Tymoshenko candidata apoiada por Victor
Yushenko, foi derrotada por Victor Yanukovich, pondo fim definitivo a Revolução
Laranja. Em outubro de 2011, Yulia Tymoshenko foi condenada a sete anos de
prisão por abuso de poder na conclusão de acordos de petróleo com uma empresa
de gás russa em 2009 que gerou um prejuízo de 200 bilhões de dólares para a Ucrânia,
num processo considerado arbitrário e anti-democrático. A Ucrânia, uma das
sedes da Eurocopa de 2012, durante seus preparativos, sofreu pressões internacionais
por causa de supostos maus-tratos na prisão a ex-premiê Yulia Tymoshenko, com
cancelamento de visitas oficiais ao evento e boicotes. Vale lembrar que a Ucrânia
se tornou independente da União Soviética em 1991, desde então é alvo de
disputa de influência pela Rússia e pelo Ocidente. Além disso, a Ucrânia tem a
maior concentração de russos fora do país, é berço da etnia russa e sua população
é dividida entre a identidade russa e a identidade européia. Tentam negociar a
entrada da Ucrânia na União Européia e na OTAN, assim como a Geórgia,
despertando a fúria de Moscou, interessada em recuperar sua zona de influência
do período soviético. Enfim, mais um capítulo chega para esquentar a disputa
entre a Rússia e Ocidente pela influência da Ucrânia, uma novela que já dura
quase dez anos e que nos remete a guerra fria.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Opinião Política - Geórgia e o Kremlin
Nestes dias, o poder do presidente Mikhail
Saakashvili da Geórgia sofreu um revés político. Em suas eleições legislativas,
o partido opositor liderado por Bidzina Ivanishvili conquistou a vitória,
ensejando uma mudança política e abrindo espaço para a transferência do poder,
uma vez que Saakashvili está no poder há quase uma década, gozava de um
Parlamento que lhe era favorável, com seu partido ocupando 119 dos 150 assentos
parlamentares e Ivanishvili terá poderes inéditos desde a independência do país
da União Soviética, pois uma reforma constitucional recente transferirá muitos
dos poderes presidenciais para o primeiro-ministro, após as presidenciais do
próximo ano. Vale lembrar que a Geórgia fazia parte da União Soviética,
conquistou a sua independência em 1990 e faz parte da Comunidade dos Estados
Independentes desde 1994. A Geórgia é localizada as margens do Mar Negro, no Cáucaso,
é alvo da disputa geopolítica entre o Ocidente e o Oriente, entre a Europa e a
Rússia, entre as nações livres e o Kremlin. Essa disputa é alimentada pelos
planos da OTAN e da União Européia de incorporarem o país, gerando duras reações
da Rússia, que busca manter, exercer e recuperar a influência sobre os territórios
que faziam parte da União Soviética, entrando em choque com os Estados Unidos,
interessados em bases aéreas e petróleo. Em 2003, a Geórgia viveu a Revolução
Rosa, em que um movimento pacífico e popular liderado por Mikhail Saakashvili,
apoiado pelo Ocidente, retirou o presidente Eduard Shevardnadze do poder,
desgastado pela corrupção, pelo autoritarismo e pela crise econômica. Mikhail
Saakashvili promoveu mudanças pró-ocidentais na ex-república soviética,
combateu a corrupção e implementou reformas econômicas, sendo considerado um
exemplo de democracia. Em 2008, a Geórgia enfrentou tropas russas ao invadir a Ossétia
do Sul, região separatista que faz parte do território georgiano, mas que é habitada
por uma população de origem russa e fortemente ligada a Rússia, assim como a Abkházia,
num conflito armado que durou cinco dias. O conflito só teve fim quando aceitou-se
um plano de paz proposto pela União Européia, pelo qual tropas dos dois lados
se retiraram para posições anteriores ao início do conflito. Tal conflito
armado acabou por desgastar a imagem de Mikhail Saakashvili e culminar na sua
derrota eleitoral. Bidzina Ivanishvili se diz pragmático, que não vai entrar no
jogo estratégico das grandes potências, que vai pautar a sua política nos
interesses da Geórgia e que vai restabelecer relações amistosas com Moscou sem
ser hostil a União Européia, repetindo discurso de líderes da região que no fim
acabaram virando as costas para a Europa e seus princípios democráticos e se voltando
para Moscou, para o Kremlin.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Opinião Política - Revolução de Chávez VS Caminho de Capriles
A Venezuela realiza eleições presidenciais nesta semana e
tudo indica que o caudilho Hugo Chávez, no poder desde 1998, deve ser reeleito
para o seu terceiro mandato de seis anos, mesmo com a união inédita da oposição
e sob uma pequena margem de pontos beirando o empate técnico, ameaçando a já
despedaçada democracia venezuelana. O
clima do pleito segue quente e intensamente polarizado. Hugo Chávez chegou a
falar em guerra civil em caso de derrota e já ameaçou quem ousar reverter as
conquistas da sua revolução bolivariana. Nas proximidades de Barinas, um atirador
matou três ativistas da oposição em um ato político, levando o governo a
anunciar a prisão de três suspeitos. Hugo
Chávez foi diagnosticado há pouco mais de um ano com um tumor na região pélvica,
vem exibindo limitações durante a campanha em razão do tratamento ao qual foi
submetido e não esbanja mais o mesmo vigor físico que lhe permitia discursar
por horas e andar em meio a multidão. Durante seu governo, por um lado, Hugo Chávez
reduziu o índice de pobreza da Venezuela de 48% da população em 2002 para 28%
em 2010, retirou 30% dos venezuelanos da miséria e alcançou a menor desigualdade
de renda da América do Sul. Por outro lado, no entanto, Hugo Chávez abandonou a
responsabilidade fiscal para irrigar com verbas públicas seus projetos sociais.
Tais iniciativas, chamadas missiones, constituem seu maior trunfo eleitoral. O
gasto público subiu 23% em comparação com 2011, as reservas internacionais vêm
sendo reduzidas e a petroleira PDVSA repassou U$ 79 bilhões para o governo
gastar, o dobro do ano anterior. A dependência do petróleo e o descontrole econômico
provocaram inflação de 30%, escassez de dólares para importação, apagões de
energia e desabastecimento. E Caracas se tornou uma das capitais mais violentas
do mundo. Além disso, o autoritarismo e a destruição da democracia têm sido a
marca de seu governo, que chegou inclusive a alterar a Constituição do país. Na
Venezuela, o Executivo domina o Legislativo e o Judiciário, vive-se um regime
hibrido onde não há mais freios e contrapesos entre os poderes e o Estado é
moldado pelos interesses de Chávez. Hugo Chávez pode ainda acionar as milícias bolivarianas
recrutadas entre a população desempregada, espalhadas pelo país, leais ao
regime e inspiradas nos comitês de defesa do castrismo em Cuba. Henrique Capriles,
o candidato da oposição, vem adotando durante a campanha um estilo galanteador
e um estilo hiperativo e mostrando todo o seu vigor físico e sua excelente
forma física. Henrique Capriles tem prometido mais eficiência, ser o homem
novo, fazer um governo conciliador, manter os programas sociais, sabendo que,
por um lado, não pode atacá-los e, por outro lado, ao prometer mantê-los presta
reconhecimento ao governo. Além disso, tem enfocado a incompetência do governo,
que destruiu a PDVSA, desmontou a infraestrutura nacional, gerou inflação e fez
a criminalidade disparar. A Venezuela vive um momento tenso e vive sob
incertezas acerca de seu futuro em relação a dúvidas ligadas a ser governada
por um governo autocrático em seu terceiro mandato e sob um presidente em
tratamento ou sob um governo de oposição.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Opinião Política - China e Japão em Crise
Nestes
dias, na China, houve protestos e manifestações violentas de chineses contra o
Japão que atingiram postos diplomáticos e empresas japonesas e danificaram suas
estruturas, na mais séria crise entre os dois países desde 2005. A crise teve
início quando o governador populista de Tóquio Shintaro Ishihara lançou uma
campanha para comprar o arquipélago de Sentaku para os japoneses e Diaoyu para
os chineses, que era então alugado pelo governo central japonês de um
proprietário privado, despertando a ira dos chineses. Trata-se de ilhotas
rochosas e desabitadas a nordeste de Taiwan no oceano Pacífico com potencial
pesqueiro e petrolífero. Além disso, barcos pesqueiros chineses e da Guarda
Costeira japonesa se envolveram em escaramuças envolvendo cantões
d’água. Como consequência dessa crise, fabricantes de carros japoneses anunciaram uma perda estimada
de cerca de U$ 250 milhões, uma vez que houve uma onda de boicote aos produtos
japoneses na China. Algumas companhias japonesas que atuam na China, como a
Toyota, a Nissan e a Honda, as três maiores fabricantes do país, tiveram que
ser temporariamente fechadas. A Mitsubish Motors e a Yamaha Motor suspenderam
suas operações. Na Bolsa de Tóquio, as ações da Nissan Motors caíram 5%,
da Honda Motors 2,5% e da Uniqlo 7%. Houve uma queda de 20% no número de
chineses que visitam o Japão e cerca de 15 mil passagens para a China foram
canceladas. Muitos japoneses que moram na China começaram a voltar para o
Japão, com medo de escalada da violência. Teme-se os efeitos da continuidade do
conflito e dos atritos sino-japoneses. Vale lembrar que a China é a segunda
maior economia do mundo e o Japão é a terceira maior economia. Em 2011, o
comércio bilateral entre China e Japão gerou cerca de US$ 343 bilhões
representando 9,4% da balança comercial chinesa. As exportações para o Japão
chegaram a quase 8% do total e as importações atingiram 11%. Em contrapartida,
as exportações japonesas para a China chegaram a quase 20% do total
comercializado pelo país em 2011.China e Japão se vêem novamente envolvidos em mais um atrito em um momento
em que completou 40 anos que houve o estabelecimento de laços diplomáticos
entre os países. No entanto, essa crise não deve durar muito e provocar reações
além da retórica devido ao tamanho das economias chinesa e japonesa e em razão
das relações econômicas entre China e Japão.
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